23 de setembro de 2014

Saudemos a Primavera!

Não por acaso, mas sim muito bem arquitetada pela natureza, chega pelo frescor do perfume das primeiras flores, a bem-vinda estação da Primavera! É tempo de florescer, tempo de renovar a esperança e abrir o coração para as cores e luzes que inevitavelmente alcançarão nossos olhos e corações. Respire fundo, sorria por um instante, deixe a vida brotar de novo, e renasça feliz...

Observe o movimento natural da vida ao redor, entregue-se e integre-se a ela. Sejam seus pensamentos como folhas ao vento e suas ideias, flores a desabrochar e a anunciar novos frutos. Então comece sorrindo, cantando e meditando nas poéticas palavras de Cecília Meireles:

“Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.”

E assim desejo a mais linda das Primaveras a vocês!
Namastê!

Marise  Armondes


Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

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